O que é a Terapia Ocupacional?

A Terapia Ocupacional

O terapeuta ocupacional habilita para a ocupação de forma a promover a saúde e o bem-estar. Com este objetivo atua, em parceria com pessoas e organizações, para otimizar a atividade e participação, tal como definido pela World Health Organisation’s International Classification of Functioning and Disability (2002).

Promove a capacidade de indivíduos, grupos, organizações e da própria comunidade, de escolher, organizar e desempenhar, de forma satisfatória, ocupações que estes considerem significativas.
Entende-se por ocupação tudo aquilo que a pessoa realiza com o intuito de cuidar de si própria (autocuidados), desfrutar da vida (lazer) ou contribuir para o desenvolvimento da sua comunidade (produtividade). Estas ocupações podem ser tão elementares como alimentar-se ou vestir-se ou tão elaboradas como conduzir um carro ou desempenhar uma atividade laboral.
Para tal, estuda os fatores que influenciam a ocupação humana, intervindo com pessoas de todas as idades nas situações que comprometam ou coloquem em risco um desempenho ocupacional satisfatório e consequentemente, restrinjam a sua atividade e participação.

Na sua abordagem, avalia e intervém ao nível da pessoa, da ocupação e do ambiente. Intervém para desenvolver competências, restaurar funções perdidas, prevenir disfunções e/ou compensar funções, através do uso de técnicas e procedimentos específicos e/ou da utilização de ajudas técnicas ou tecnologias de apoio.

(Para mais informações consulte o Perfil do Terapeuta Ocupacional).
 

História

A Terapia Ocupacional consolidou-se formalmente como profissão no início do século XX. O termo  surgiu no início desse século e deve-se a um arquitecto americano, George Burton, que foi o impulsionador de uma instituição situada em Clifton Springs (New York) onde as pessoas eram reeducadas e ajudadas através da ocupação, de modo a readquirirem um sentido para a vida.
Apesar de não existirem relatos formais históricos da Terapia Ocupacional anteriores a este período, há referências ao longo da história do Homem que apontam para a importância da ocupação como processo terapêutico. Por exemplo, já em 2600 a.C. os chineses consideravam que a doença resultava da inatividade física e utilizavam o treino físico como terapia. Por outro lado, os egípcios deixaram, cerca de 2000 a.C., vestígios que revelam a utilização de templos onde pessoas “melancólicas” eram tratadas recorrendo a jogos e onde se defendia a aplicação do tempo em ocupações agradáveis. Na Grécia clássica, por volta de 600 a.C., dizia-se que Asclepius, o deus da cura, utilizava cantigas, músicas e dramatizações para acalmar os delírios. Também o escritor e orador romano Séneca (30 a.C.) defendia a utilização de cantigas e música para tratar qualquer tipo de agitação mental. Por sua vez, Hipócrates (220 d.C.) enfatizava a ligação entre o físico e a mente e recomendava a luta greco-romana, a equitação, o trabalho e os exercícios vigorosos.

Muitos outros exemplos ficaram registados ao longo do tempo sobre a importância da ocupação, a maioria das vezes ligados ao tratamento da doença mental. No entanto, só em 1786 o médico francês Philippe Pinel daria início a uma reforma com implicações profundas no tratamento dos doentes mentais colocados em asilos. Essa reforma valorizou a importância da ocupação e ficou associada ao conceito de Tratamento Moral. Pinel prescreveria exercícios físicos e ocupações manuais como forma de terapia. Esta nova postura começou a ser difundida e a ter uma maior aceitação no decorrer do século XIX, levando ao crescente envolvimento dos doentes mentais nos trabalhos dos asilos onde estavam inseridos. Paradoxalmente, nos hospitais particulares surgiriam resistências a esta reforma, porque se defendia que quem pagava para ser tratado não deveria ser posto a trabalhar. Muito mais tarde, em 1950, Dunton, por exemplo, haveria de questionar a credibilidade deste pressuposto, alegando que poderia haver interesses económicos por detrás desse trabalho. E assim, muitas vezes com base em observações empíricas ou apenas intuições, foi-se caminhando para o desabrochar daquilo que seria a futura profissão: Terapia Ocupacional.

Atualmente, a primeira pessoa a estabelecer um curso que poderia ser identificado como precursor da profissão de Terapia Ocupacional foi Susan Tracey, enfermeira-chefe do Adams Nervine Hospital de Boston (EUA). Em 1906, Susan Tracey iniciou uma formação destinada a estudantes de enfermagem e posteriormente (1910) decidiu publicar o conteúdo das suas aulas em formato de livro. Paralelamente, em 1908, iniciou-se um curso de treino ocupacional na Chicago School of Civics and Philanthropy, para preparar enfermeiras destinadas a trabalharem em instituições de saúde mental. E foi também nesta altura que se começou a estruturar os fundamentos do que seria definido pelo arquitecto Jorge Barton como conceito de Terapia Ocupacional.

No início do século XX, a ideia de utilizar a ocupação no tratamento de pessoas com doença mental foi-se implementando, ganhando credibilidade e difundindo. Em simultâneo, o papel social da mulher trabalhadora ligada a profissões destinadas a prestações de cuidados na área da saúde, principalmente na área da enfermagem, foi-se modificando e fortalecendo. É como consequência do pós-guerra que se verifica o desenvolvimento da Terapia Ocupacional em Inglaterra, na área das disfunções físicas, com a criação de departamentos de Terapia Ocupacional nos hospitais militares. Era necessário reabilitar os jovens militares incapacitados durante a guerra.

Os primeiros departamentos de Terapia Ocupacional na área das  incapacidades físicas valorizavam o exercício articular e muscular e possuíam várias ferramentas e maquinaria diversa adaptada (por exemplo, máquinas de serrar com pedais), predominando atividades como a carpintaria e a pintura.
Em 1930, a Dr.ª Elisabeth Casson após ter tido contato com as escolas americanas de New York e Boston, implementou na Dorset House Psyquiatric Nursing Home, em Bristol, a primeira escola de treino em Terapia Ocupacional na Europa. Seria também em Inglaterra, em 1936, que se formaria a Associação de Terapeutas Ocupacionais (AOT). Mas só nos países mais afetados pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945) se viria a implantar fortemente a Terapia Ocupacional, com a criação de novos departamentos onde mais se sentia uma forte influência militar. Isto porque o trabalho deveria ter um papel relevante na reabilitação e integração dos soldados feridos, nomeadamente através da reaprendizagem das atividades da vida diária e artesanais. Surgia assim a ligação da ocupação ao modelo médico, embora com a preocupação de adequar cada atividade às necessidades individuais de cada pessoa em tratamento, valorizando a motivação e a autodeterminação.

Nos anos oitenta, vários autores questionaram esta ligação ao modelo médico, embora reconhecendo ter sido importante para a credibilidade da Terapia Ocupacional. Sentindo o risco da perda de identidade profissional (muitas vezes havia similitude entre a Terapia Ocupacional e a Fisioterapia), retomaram o conceito primordial que liga a ocupação à saúde. Defendem que a ocupação é fundamental para a saúde, bem-estar e confere sentido à vida. No novo paradigma, os terapeutas ocupacionais propõem-se intervir em qualquer situação onde ocorra alteração do desempenho ocupacional. Na sua intervenção, centrada no cliente, os terapeutas ocupacionais utilizam as atividades significativas como meio ou como objetivo final, para restaurar o desempenho ocupacional alterado.

Em Portugal, o curso de Terapia Ocupacional surgiu em 1957, por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tendo as primeiras terapeutas ocupacionais recebido formação nos EUA e em Inglaterra. Durante a década de 80 e 90 o curso foi ministrado em duas escolas distintas, Escola Superior de Saúde do Alcoitão, em Lisboa, e na Escola Superior de Tecnologia do Porto, mas  devido à crescente procura destes profissionais, no inicio do século XXI abriram várias novas escolas onde atualmente  é ministrada a Licenciatura em Terapia Ocupacional. (ver separador Terapia Ocupacional – Como obter a licenciatura? )

 
Traduzido e adaptado de Turner, Annie (2002). Occupational Therapy and Physical Dysfunction(5.ª ed.).London: Churchill Livinsgtone, 3-10.

Texto retirado: https://www.ap-to.pt/to.html

APTO- Associação Portuguesa de Terapia Ocupacional